Efeitos fisiológicos do exercício
Efeitos sobre a musculatura esquelética
Hipertrofia – aumento de massa como resultado do treinamento de força. O aumento ocorre no diâmetro das fibras musculares (pode chegar a 100%) com aumento de moléculas de actina e miosina, núcleos periféricos, mitocôndrias e capilares. O aumento do tamanho e número de mitocôndrias é de importância fundamental na atividade muscular prolongada. O treinamento de resistência resulta em repercussão sobre as fibras vermelhas (resistência) e o treinamento de força, sobre as fibras brancas (velocidade e força).
Vascularização - O aumento do número de capilares (vasos sanguíneos) nos músculos possibilita uma redução do volume necessário de irrigação do músculo treinado rendendo a mesma capacidade muscular submáxima.
Metabolismo – Constatou-se elevação da quantidade de substâncias envolvidas com os metabolismos da contração e relaxamento musculares: glicogênio, gorduras neutras, mioglobina, fosfatos, potássio, cálcio magnésio entre outras. As reservas energéticas serão mobilizadas mais rapidamente e de maneira mais eficaz, com menor gasto energético.
Efeitos no sistema ósseo
O treinamento que leva a pressão e tração comedida sobre os ossos resulta em estímulo de formação de massa óssea. Observa-se aumento no diâmetro dos ossos dos jovens sendo que o aumento na tábua externa* e na camada esponjosa interna é evidenciado também em adultos. A cartilagem também demonstra efeitos de hipertrofia por atividade. É notável a adaptação morfológica das estruturas ósseas e articulares ao treinamento com melhora na mobilidade e flexibilidade articular.
Efeitos no sangue
O treinamento de endurance resulta na chamada “eritropoese” (aumento do número de glóbulos vermelhos, do plasma sanguíneo) o que facilita o transporte de nutrientes e oxigênio. As células musculares são capazes de metabolizar o ácido lático de maneira mais eficiente o que resulta em maior eficiência muscular durante o exercício.
O treinamento de resistência também promove diminuição das lipoproteínas de baixa densidade e um aumento dos níveis de lipoproteínas de alta densidade (efeitos protetores para os vasos).
Efeitos no sistema cardiocirculatório
Como resultado de treinamento o sistema cardiovascular se torna mais eficiente e o treinamento de resistência pode resultar em modificações morfológicas e fisiológicas suficientes para construir o “coração de atleta”: maior peso cardíaco; maior volume cardíaco; menor amplitude de pressão arterial; menor trabalho no repouso; menor consumo de oxigênio no repouso; maior reserva de oxigenação coronária; maior elasticidade dos vasos em idade avançada.
O treinamento de força (halterofilistas) resulta em aumento exclusivo de diâmetro da parede do ventrículo esquerdo (hipertrofia miocárdica) sem o aumento efetivo do volume cardíaco.
Efeitos sobre o sistema respiratório
A ventilação faz parte das funções centrais que sofrem adaptações com o exercício, uma vez que o sangue passa pelos pulmões para receber oxigênio que será transportado ao organismo. Durante a prática do exercício o volume-minuto aumenta li-nearmente e a fração de ar inspirado e expirado aumenta proporcionalmente com a demanda, assim aumenta o trabalho dos pulmões. O treinamento com exigência de volume-minuto elevado parece estimular o desenvolvimento do tórax nos jovens em desenvolvimento. A hipertrofia da musculatura respiratória é resultado de treinamento aeróbico. O sistema respiratório treinado apresenta maiores reservas de ventilação, um maior vo-lume-minuto e um potencial de consumo de oxigênio maior que os indivíduos não treinados ou com treinamento exclusivo de força. O treinamento de resistência resulta em melhor taxa de assimilação máxima do oxigênio. A capacidade de suprimento de outros órgãos e suas células servirá para o esporte, assim como na reabilitação e prevenção de patologias.
Efeitos do treinamento sobre o sistema endócrino
O treinamento resulta em um aumento diferenciado da capacidade bioquímica do sistema endócrino, o que facilita a manutenção da homeostase do organismo uma vez que as modificações bioquímicas resultantes do treinamento ocorrem por intermédio dos catalizadores hormonais.
O funcionamento hormonal se torna mais eficiente a medida que o treinamento aumenta a sensitividade de receptores específicos e atividades enzimáticas com menor concentração hormonal nos diferentes tecidos ou sistemas do organismo; maior eficiência do córtex adrenal (produção-eliminação de corticóides endógenos) nas situações de stress e em repouso; controle mais eficiente da concentração de adrenalina no plasma sanguíneo nos esforços máximos e submáximos; melhor regulagem das concentrações plasmáticas de insulina e glucagón (diabéticos podem se beneficiar de menor necessidade de insulina e melhor tolerância a ingestão de carboidratos quando bem condicionados); maior capacidade bioquímica da tireóide.
Com base nestas afirmações podemos demonstrar que um programa cuidadosamente bem elaborado de Força/Potência, traz grandes benefícios a um programa de condicionamento aeróbio.
Outro aspecto interessante, resultado do treinamento de força, é a diminuição da incidência de lesões músculo-tendíneas, sendo hoje muito utilizado por corredores de longa distância também com este objetivo.
A periodização de programas de treinamento de força é usualmente dividida em ciclos, onde cada um tem como objetivo o desenvolvimento de uma capacidade muscular. A seqüência de ciclos mais utilizada consiste: adaptação neuro-anatômica, seguida do progressivo desenvolvimento da hipertrofia, dando seqüência ao desenvolvimento da força máxima e finalizando com o programa de potência ou de transferência de força para velocidade ou potência.
a) Adaptação neuro-anatômica: volume alto e intensidade baixa, para o preparo do sistema músculo-tendíneo suportar cargas mais intensas.
b) Resistência de força e hipertrofia: a resistência localizada e o aumento do volume muscular favorecem o ganho de força.
c) Força máxima: volume baixo e alta intensidade. Aumento do recrutamento de unidades motoras e aumento da coordenação intra e intermuscular.
d) Transferência de força ou potência: fase de transferência da força adquirida em velocidade (pliometria, velocidade, agilidade...).
Os métodos clássicos de periodização do treinamento de força aumentam progressivamente a intensidade, com pequenas variações a cada microciclo de 2 a 4 semanas. O volume de treinamento usualmente inicia alto e a medida que a intensidade aumenta, ele deve diminuir gradualmente. A diferença entre a intensidade e o volume pode se tornar proporcionalmente menor a medida que a resposta ao treinamento do atleta progride (supercompensação).
Segundo destaque da literatura, existem três subcategorias para o treinamento de força explosiva: 1) Treinamento de taxa de produção de força; 2) Treinamento de aceleração; e 3) Treinamento pliométrico. A seguir descrevo resumidamente a idéia de cada subgrupo.
Renato Lotufo - médico fisiologista
Fonte: Labirinto do Corpo
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